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Precisamos falar sobre alimentos

 


Conseguimos ter acesso a quase todo tipo de alimento graças ao avanço tecnológico desenvolvido nos últimos séculos. Exemplo disso são meios de transportes globais, refrigeração adequada e mercado de commodities — gerenciado online com internet rápida e armazenamento em nuvem. Frutos do capitalismo dentro da lógica do livre mercado, as decisões sobre inovação no setor rolam com o interesse em se alcançar mais eficiência, produtividade e lucro. É fato que nesse tempo todo muita comida e bebida foram produzidos, inclusive a ponto de seu volume alcançar a quantidade de pessoas no mundo. Esse pensamento saiu da década de 60, quando o planeta atravessou um boom populacional e, para atender essa demanda toda, o caminho foi fabricar mais. Contudo, como sabemos, isso não foi o suficiente para que uma parcela de nossa espécie pudesse ter esse recurso essencial. Também temos visto como resultado a degradação ambiental e outros problemas de ordem econômica, assim, talvez seria uma boa hora para a indústria mudar.

 

Jogando com dados

Junto de equipamentos avançados, o ramo alimentício seguiu em frente graças à chegada do sistema ferroviário, além de quantidades absurdas de pesticidas e fertilizantes. Aliás, um reflexo bem negativo dessa transformação foi mais degradação natural, como erosão e desmatamento. Produzir um volume maior de alimentos, porém, ajudou em parte no combate à subnutrição global: o número de pessoas nessa condição passou de 1 bilhão, em 1990, para 780 milhões em 2014. Por outro lado, um relatório da ONU diz que a fome voltou a inflar entre 2015 e 2019, afetando hoje 25,9% da população mundial — cerca de 2 bilhões de pessoas, em grande parte mulheres. O órgão ainda revela o baixo rendimento dos pequenos agricultores em comparação aos grandões. Outro ponto importante é o aumento de posse de recursos fitogenéticos — qualquer material genético vegetal para alimentação/agricultura —, cujo total cresceu 1,22 milhão em 2019 em relação a 2005. Apesar disso, o saldo positivo não será o suficiente para se garantir mais diversidade nas culturas, em especial nas menos utilizadas.


Guardas de sementes

Um artigo do professor Fabio Parasecoli da Universidade de Nova York defende que uma boa saída para acabar tanto com a fome quanto com os problemas ligados à indústria seria um investimento diferente em tecnologia. Especialista em alimento e nutrição, ele fala sobre a modificação genética, desde que usada com o interesse de se fortalecer a agricultura local, além de criar um sistema de produção sem o interesse exclusivo no lucro, com foco sustentável e saudável — inclusive no aspecto nutritivo. O autor cita inclusive um exemplo barato e interessante: a ativista indiana Vandana Shiva tem o projeto de treinar um grupo de pessoas locais para serem guardiãs de sementes. No caso, elas têm o dever de armazenar e oferecer aos produtores variedades em extinção para serem cruzadas e cultivadas. Já no espaço político-econômico, Parasecoli sugere a exigência de que firmas de tecnologia, como de monitoramento no campo, tornem suas patentes públicas depois de um tempo. Ou então que dividam seus lucros de royalties para poder acessar novos mercados.


Dá para melhor?

O professor fala que essas mesmas companhias poderiam desenvolver safras novas a partir de material genético de plantas de comunidades específicas. O próximo passo seria formar biólogos dentro desses grupos e compartilhar os royalties da produção com esse pessoal. Essa chance de mudar a cadeia de alimentos tem um pé no Protocolo de Nagoia, lançado na Eco-92, mas firmado em 2010 e 2011 entre centenas de países. Seu objetivo é o da repartição justa dos benefícios dos recursos genéticos interno, embora cada governo determine quem de fora possa ter seu acesso. Ele critica também que os acordos da Organização Mundial de Comércio (OMS) para o livre comércio seriam culpados de nações mais pobres estarem se dando mal quanto à gestão do estoque de alimentos, ou seja, às vezes a população de um país acaba prejudicada — ou pagando mais para comer — diante das altas demandas por exportação. A união de todas essas medidas funcionariam como um jeito de remediar possíveis crises, como a que temos visto agora na pandemia. Alguém do setor se habilita?

Fonte: The Brief

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