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A defesa da democracia vai depender cada vez mais de tecnologias comerciais viáveis e empregadas na linha de frente contra a invasão autoritária

 

O Clubhouse revolucionou as redes sociais no começo do ano de uma maneira semelhante ao rádio, há mais de um século: através da voz. De uma hora para outra, centenas de pessoas passaram a frequentar salas e debater assuntos diversos. Ele serviu de inspiração para várias outras ferramentas semelhantes – para não dizer que foi copiado –, mas um de seus principais poderes passou quase despercebido pela mídia ocidental: a participação dos chineses. Normalmente proibidos de ter acesso ao que o outro lado do mundo discute, os cidadãos de lá passaram a conversar com pessoas de todos os lugares. Isso durou pouco, é claro, já que o governo baniu o aplicativo no começo de fevereiro. Para piorar, uma startup chamada Agora tinha acesso aos áudios discutidos na plataforma, bem como seus metadados, permitindo que o Partido Comunista pudesse monitorar quem conversou e o que foi falado.

Match com manifestantes

O poder de censura dos governos autoritários é gigantesco. Eles têm acesso a tecnologias que impedem os habitantes de usufruir a internet como a rede global que de fato ela deveria ser. Felizmente, o setor privado está descobrindo que é possível usar a própria tecnologia para minimizar esse poder, mesmo que seja por pouco tempo, como no caso do Clubhouse. Nos protestos de Hong Kong, em 2019, por exemplo, a galera usou o Tinder para recrutar novos manifestantes e o Pokémon Go para realizar reuniões clandestinas. As pessoas também se comunicaram entre si através do LIHKG, um fórum semelhante ao Reddit, e usaram o HKmap.live para avisar os lugares em que a polícia estava.

Não vão nos calar!

Outra forma que vem sendo usada para burlar os bloqueios é a criação de redes ponto a ponto. O serviço Bridgefy, por exemplo, usa Bluetooth e redes mesh para conectar os dispositivos, sem a necessidade de passar pela internet. Ou seja, isso funciona mesmo quando há bloqueio a todo o acesso online, igual o Irã tentou fazer em 2019. Também existe o Botometer, que tenta impedir as contas automatizadas do Twitter – os tais robôs –, que só existem para espalhar desinformação e caos. A tecnologia do reconhecimento de adulterações em vídeos e fotos, como a Truepic, é outra que pode ser usada para descobrir se governos autoritários estão divulgando informações falsas sobre suas realidades.

Jogo de dados viciados

E a “balbúrdia” das universidades também desenvolveu outra curiosa maneira de atrapalhar a perseguição: poluir os dados de navegação. Através de ferramentas tecnológicas, os dados são adulterados para impedir que os governos autoritários possam traçar perfis e monitorar a atividade das pessoas com precisão. Já outras tecnologias de privacidade manipulam os dados sensíveis compartilhados na rede, principalmente aqueles que poderiam levar à identificação de dissidentes de países sem liberdade de expressão. Outras ferramentas, como algumas de rastreio da covid, fazem com que esses dados sejam armazenados apenas no dispositivo dos usuários. Isso impede que o governo saiba cada passo que você der.

Força, democracia!

No artigo do Wall Street Journal encontramos uma frase maneira que resume tudo isso: “A defesa da democracia vai depender cada vez mais de tecnologias comerciais viáveis e empregadas na linha de frente contra a invasão autoritária”. Seria perfeito se todos pudessem navegar livremente? Seria, óbvio. Enquanto isso não ocorre, que a tecnologia possa defender quem quer usar a internet para fazer boas coisas, nem que seja para apenas se comunicar com o outro lado do mundo em paz. Agora, também resta saber como governos democráticos podem acabar usando essa proteção de dados sensíveis para benefício próprio, mas isso é assunto para outra news.

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