E o dia tão esperado pela SpaceX chegou. Na tarde de 27 de maio, mais conhecido como tarde de hoje, a companhia de Elon Musk levará seus primeiros passageiros aos espaço, dando início a uma nova era de viagens interplanetárias para seres humanos. Esta é a primeira vez, em quase dez anos, que as pessoas serão lançadas em órbita de solo americano e que uma empresa particular está por trás da viagem. Na realidade, o voo acontecerá mais em caráter de teste e é muito importante para a companhia espacial enquanto parte do Programa de Tripulação Comercial da Nasa. A iniciativa experimental incumbiu empresas privadas de criar novas naves espaciais capazes de transportar astronautas de e para a Estação Espacial Internacional. A contribuição da SpaceX ao programa é uma cápsula em forma de goma chamada Crew Dragon que, embora já tenha voado algumas vezes, levará pessoas ao espaço pela primeira vez agora. Mas nada disso aconteceu de uma hora para a outra.
Preparação à mil
Há aproximadamente nove anos, em 8 de julho de 2011, o Space Shuttle da NASA fez seu último voo, marcando também a última vez que astronautas foram ao espaço via Estados Unidos. Desde então, a agência governamental levou todos os seus astronautas e parceiros internacionais para a estação espacial na cápsula russa da Soyuz, em um acordo que custa à NASA cerca de USD 80 milhões por cadeira. Assim, para acabar com a dependência da empresa a outro país, eles fecharam contratos com a SpaceX e a Boeing como parte do Programa de Tripulação Comercial. A Agência Espacial Americana pagou à companhia de Musk USD 3,14 bilhões para desenvolver e pilotar o Crew Dragon, enquanto a Boeing recebeu USD 4,8 bilhões para desenvolver e pilotar o CST-100 Starliner. Desde então, um clima de rivalidade marca a relação de ambas as empresas que já tiveram diversos atrasos técnicos e contratempos nos planos. Porém, a SpaceX ainda conseguiu assumir a dianteira e se tornar a primeira companhia privada a levar pessoas à órbita.
Preparar, apontar e... fogo?
O foguete Falcon 9, da SpaceX, vai decolar do local de lançamento da empresa no Kennedy Space Center (NASA) em Cape Canaveral, Flórida. Conhecido como Complexo de Lançamento 39A, foi lá que aconteceram os lançamentos do Space Shuttle e do Saturn V que enviaram seres humanos para a Lua. A companhia de Musk começou a alugar o complexo da NASA em 2014 e transformou o local para dar um melhor suporte aos vôos dos foguetes Falcon 9 e Falcon Heavy. Os astronautas Bob Behnken e Doug Hurley chegarão à plataforma por volta das 13:00 ET. E como é do Muskinho que estamos falando, ambos chegarão ao local a bordo de um Tesla Model X branco, adornado com vários logotipos da NASA. Uma vez lá, a dupla pegará um elevador perto do topo do Falcon 9 e atravessará um corredor suspenso conhecido como "braço de acesso da tripulação" até a entrada do Crew Dragon. Aí que a coisa começa a pegar: depois que o astronautas entrarem na cápsula, o processo de abastecimento do veículo começa, o que deixa a comunidade aeroespacial bem tensa, uma vez que encher o tanque de combustível geralmente ocorre antes dos caras embarcarem. A empresa usa propulsores incrivelmente frios para pilotar seu Falcon 9, o que aumenta o desempenho do veículo. Quanto mais cedo a SpaceX bombear esse propulsor antes do lançamento, menos tempo haverá para os líquidos se aquecerem e ferverem. Depois que tudo estiver pronto, a empresa vai dar o sinal verde para o subir, com a decolagem programada para as 16h33 ET (ou 17h33 no horário de Brasília). Eles devem iniciar no momento exato ou ser forçada a adiar a data de lançamento do backup, que está atualmente definida para sábado, 30 de maio.
Em órbita
Caso tudo dê certo (dedos cruzados), o foguete Falcon 9 lançará o Crew Dragon em órbita baixa da Terra cerca de 12 minutos após a decolagem. A nave retornará à Terra, onde está programada para pousar em um navio zangão no Oceano Atlântico, e assim, pelas próximas 19 horas os astronautas orbitarão o planeta. Durante esse tempo, o veículo espacial vai tentar alcançar a Estação Espacial Internacional. Ele foi projetado para que haja o mínimo de inputs dos seus passageiros, quase como um veículo que dirige sozinho (a Tesla manda um abraço), mas, como se trata de um teste, Hurley e Behnken farão alguns vôos manuais antes de chegarem ao destino. Esta também será a primeira vez que o novo sistema autônomo de encaixe será utilizado. No passado, era necessário que um braço mecânico puxasse o veículo para pousar, mas agora o processo todo deverá ser feito sozinho pela própria cápsula.
A volta dos que já foram (e voltaram vitoriosos)
Na Estação Espacial Internacional, Behnken e Hurley se juntarão ao astronauta da Nasa Chris Cassidy e aos cosmonautas russos, Anatoly Ivanishin e Ivan Vagner. Originalmente, a Agência Espacial Americana planejava manter os astronautas na estação espacial por apenas algumas semanas, mas os planos mudaram à medida que atrasos no Programa de Tripulação Comercial prolongaram o desenvolvimento dos veículos da SpaceX e da Boeing. Os primeiros vôos tripulados deveriam ocorrer em 2017 e, com a expectativa de que esses veículos voassem regularmente até agora, a NASA comprou um número limitado de assentos no foguete russo. Esses lugares começaram a acabar, e agora Cassidy é encarregado de todas as operações lideradas pelos americanos na estação espacial. Há cerca de seis meses, a NASA decidiu prolongar a permanência de Behnken e Hurley para manter uma equipe maior na ISS, e é provável que eles fiquem no espaço por alguns meses, embora a companhia ainda não tenha decidido quando os astronautas voltarão. Quando a hora de voltar chegar, eles entrarão a bordo do Crew Dragon, se distanciarão da Estação Espacial Americana e, mergulharão na atmosfera da Terra. Um conjunto de quatro paraquedas será acionado permitindo que eles mergulhem em segurança no Oceano Atlântico, na costa da Flórida. Uma vez que os astronautas estejam de volta ao lar, será o início do planejamento de viagens do tipo de maneira rotineira, que é o ponto chave do programa. A próxima missão totalmente operacional da SpaceX ocorrerá em alguns meses e o voo levará uma tripulação de quatro pessoas. Espera-se que isso ocorra no início de setembro, consolidando uma nova era em que empresas comerciais rotineiramente taxiam pessoas para a estação espacial da NASA. E a gente fica aqui aguardando a nossa vez.
Fonte: The Brief