Já faz uns anos que o mercado de influência chegou, ficou e construiu um império digital no Brasil e no mundo. Por conseguinte, surgiram negócios que ajudam a turma influenciadora e reunir ainda mais seguidores e patrocínios.
E esse universo vem ganhando um sacode por conta de uma tendência iniciada lá fora, mas que já tem alguns adeptos por aqui: a desinfluência. De modo simples, trata-se de conteúdos para não recomendar a compra de produtos ou criticar o consumismo de forma geral. Essa tendência surgiu no TikTok ano passado com a hashtag #deinfluencing, que já tem mais de 452 milhões de visualizações na rede social das dancinhas.
SIGA O QUE EU NÃO SIGO
Aqui vale um adendo: não é que essas críticas não existiam antes, porém não havia um movimento, digamos assim, que trouxesse com força esse lado mais negativo das análises.
O modus operandi da desinfluência é bem simples: fazer com que as pessoas pensem duas (ou mais) vezes antes de adquirir um produto, indo na contramão do trabalho que uma pessoa dita influenciadora faz. Essa crítica pode ser a respeito de um segmento específico ou realmente um convite para que os seguidores repensem a forma como gastam seus dinheiros.
Já existem influenciadores brasileiros praticando a #desinfluencia, como apontou uma matéria do O Globo. Os trampos englobam pequenos e grandes produtores que criticam livros, produtos de maquiagem, jogos e gadgets.
FOI DE BASE
Essa onda do “não curti” faz sentido até do ponto de vista do negócio da influência, se pararmos para pensar. Só nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que o trabalho de promoção dos influenciadores de uma única plataforma tenha gerado mais de USD 3,6 bilhões de vendas só no ano passado.
Estudos apontam que mais da metade dos usuários das principais redes sociais, como Instagram e TikTok, compra produtos após serem exibidos por algum influenciador. Mas o que acontece quando a pessoa sempre gosta de tudo? A desconfiança surge na base de seguidores. Falar de algo que não agradou também é uma estratégia para manter a confiança conquistada.
Esse rolê da desinfluência pode ser inclusive puxado pelo nicho de reviews. Um exemplo recente aconteceu após a influencer Karol Bachini testar a base da marca Wepink, da influencer Virginia Fonseca. Além de ter alcançado 3 milhões de visualizações no YouTube, o vídeo viralizou absurdamente nas redes sociais. O motivo? O produto indicava baixíssima qualidade a um preço relativamente alto (R$ 200). A partir daí veio uma onda de pessoas testando (e não recomendando) a referida maquiagem.
ENTRE A CRÍTICA E O CONTRATO
Não dá para dizer que esse movimento anti-influência mudará em 100% a forma como o trabalho entre marcas e influenciadores é realizado. No entanto, caso ele se consolide, sem dúvida alguns ajustes terão de ser feitos nesse mercado, que já ultrapassou os USD 16 bilhões só nos EUA, de acordo com a consultoria McKinsey.
E a palavra de ordem para os dois lados será: critério, tanto do lado dos (des)influenciadores, para não caírem no clichê de não gostar de nada; quanto do lado das marcas, que no futuro devem receber um número bem maior de críticas sobre seus produtos, e precisarão de mais jogo de cintura para atuar nesse setor.
#PUBLI, MAS COM BOM SENSO
A onda de desinfluência pode ser encarada como uma evolução do ecossistema de influenciadores. No longo prazo, reforçar a imparcialidade das avaliações e recomendar produtos de maneira honesta é sempre o melhor caminho. Isso inclusive pode chancelar argumentos de creators, caso alguma marca alegue que seu feedback seja apenas hate.
Para as marcas, esse novo cenário pode envolver uma curadoria melhor e que entenda com mais profundidade o perfil de criadores que desejam atrair. Se todo o mundo trabalhar direito, no final essa trend pode até gerar mais ganhos (e compras) do que perdas.