Se em algum momento da história, ligar um empresário do ramo da informática à disseminação de um vírus real (não de computador) soava como uma piada, agora a brincadeira ficou realmente séria. As teorias da conspiração resolveram fazer uma nova vítima, e o filantropo e cofundador da Microsoft, Bill Gates, está sendo acusado de ter trazido a covid-19 ao mundo. A ligação partiu de alguns grupos de direita dos EUA, apoiados pelo pessoal antivacina e por adeptos às teorias do gênero, que relacionam um pronunciamento de Gates, lá em 2015, no qual ele alertava que o maior risco para a humanidade seria um vírus infeccioso, capaz de matar milhões de pessoas, em vez de uma guerra nuclear, ao prenúncio da pandemia atual. O magnata tem sido o principal alvo de fake news relacionadas ao novo coronavírus em solo norte-americano, com desinformações sendo espalhadas em todas as redes sociais. Outro fator que pesa na “culpa” de Gates é o fato de ele defender o lockdown, pedindo encarecidamente para a população ficar em casa – coisa que Donald Trump teimava em dizer que não era necessário.
Fonte: tá na internet
Uma empresa de análise de mídia contabilizou ao menos 900 mil interações em postagens sobre o assunto, só no Facebook. Pelo Twitter, Bill Gates também viu aumentar a rejeição sofrida por apoiadores ferrenhos de Trump após criticar a decisão do governo de interromper o financiamento à Organização Mundial da Saúde (OMS). O Tio Sam é o país que mais mais contribui com a entidade, mas o presidente da América de lá alega que a agência cometeu erros na condução da pandemia. Isso aumenta sua rejeição interna, mas também faz crescer o ódio contra quem o condena — e esse é o caso de Gates. E ele não está sozinho, já que parte da direita norte-americana também está contra Anthony Fauci, “apenas” o principal infectologista do país (essa história parece um tanto quanto familiar).
Não queria ter que dizer isso, mas eu avisei
“Não há dúvida de que os Estados Unidos perderam a oportunidade de se antecipar ao novo coronavírus”, criticou Gates em artigo publicado no dia 31 de março no The Washington Post. Atualmente, o bilionário tem sido um dos maiores filantropos do mundo. A Fundação Bill & Melinda Gates está financiando ao menos 7 estudos que buscam uma vacina contra a covid-19. Esse também tem sido um dos argumentos de seus críticos, afinal, “ele só criou o vírus para depois lançar a vacina” (é claro, como não pensamos nisso antes?). Isso pode ser drástico no futuro: se uma delas se tornar eficaz, os grupos antivacinas vão entupir ainda mais a internet com desinformação, a fim de impedir que outras pessoas se submetam à cura. Outra versão da teoria é que a potencial vacina seria uma forma de rastrear digitalmente todos os cidadãos de bem — mas o que o resto da população mundial teria a ver com isso? Mistério...
O problema não sou eu, é o presidente
A treta entre Gates e Trump a respeito de doenças não é recente. Em 2018, por exemplo, o bilionário contou que em duas ocasiões precisou explicar ao presidente qual era a diferença entre o HIV e o HPV. Ele contou o causo rindo e completou dizendo que essa não era uma confusão que as pessoas normalmente tinham. Outra conexão que “prova a culpa” no #CoronaGate é o fato de o Instituto Pirbright, do Reino Unido, ter registrado a patente de uma vacina relacionada a um coronavírus — não o causador da atual pandemia, mas um que afeta aves. E quem investiu nesse projeto? Ele, é claro: Bill Gates. Com base nisso, o site conspiratório Infowars relacionou automaticamente o nome à coisa, no caso Bill à covid-19, e muita gente acreditou. Apesar de tudo isso, o filantropo já disponibilizou USD 250 milhões em recursos para conter a propagação da doença e, saindo vacina, essa redação não pensaria duas vezes em aceitar.
Fonte: The Brief
