Cenas de violência gráfica, posts com discursos de ódio e vídeos de teorias da conspiração fazem muitos usuários desviarem o olhar dos monitores. E a verdade é que, não há jeito bonito de dizer isso, para que um serviço como o Facebook conecte as pessoas pelo mundo, esse conteúdo precisa ser moderado. Tudo o que foi descrito aqui em cima faz parte de um “dia comum” de trabalho para os mais de mil funcionários da Cognizant que atendem a rede social. Daí que, ontem, o The Verge publicou uma série de entrevistas com as pessoas que são obrigadas a mergulhar diariamente no que a internet tem de pior. E o nível de insalubridade é assustador.
Who cares for the watchmen?
Além das instalações da empresa terceirizada, em Phoenix (Arizona), a estimativa oficial é de que a empresa de Mark Zuckerberg conte com os serviços (contratados direta ou indiretamente) de 15 mil “lixeiros sociais” ao redor do mundo. Os benefícios do outsourcing são claros, além de escalar sua varredura globalmente, o Facebook também reduz custos. Isso porque os moderadores têm uma realidade muito distante da galera que anda por Palo Alto ostentando um crachá bonito e um salário polpudo. A média salarial entre os funcionários do FB é de USD 240 mil anuais, contra USD 28 mil anuais recebidos por um empregado dos times da Cognizant. Até por conta dessa situação, é comum que o trabalho seja atrativo para os recém-formados.
Posts traumáticos
Essa não é a primeira vez que esse tipo de condição de trabalho vira assunto na mídia especializada. Ainda em 2014, a Wired já levantavaa bola sobre esse “lado B” das redes sociais. Se o trabalho não é a tarefa mais agradável do mundo moderno, a atmosfera descrita na matéria do The Verge é de puro caos. Empregados podem ser demitidos após poucos erros cometidos na mesma semana, experimentam ataques de pânico ainda no período de treinamento e convivem com medo dos ex-colegas. Uma das formas encontradas para superar tanta desgraça é contar piadas sobre suicídio ou fumar maconha. Alguns até mesmo passam a acreditar nas teorias de conspiração que eles precisam avaliar. Pesado.
Torture room
A rede social argumenta que a natureza gráfica do trabalho é uma realidade da qual não é possível fugir. Durante o período de experiência, os trainees são obrigados a assistir aos vídeos e dizer quais regras cada um deles inflige. Após esse período de três meses, os moderadores ganham mais controle sobre o material, podendo pausá-los ou desligar o áudio. O responsável por esses times na Cognizant, Bob Duncan, afirma que “se as pessoas não sentirem que o trabalho é potencialmente adequado com base em sua situação, elas podem tomar essas decisões conforme apropriado”. Que bom que ainda te deixam sair, não é mesmo? A principal crítica do artigo diz respeito a falta de suporte para quem faz cumprir as regras de conduta na plataforma social mais famosa do planeta. Os funcionários que desenvolvem qualquer tipo de problema psicológico após saírem das companhias não recebem assistência, por exemplo. Caso algo muito traumático seja visto durante o expediente, há um “tempo de relaxamento” de nove minutos por dia.
Agonia compartilhada
Infelizmente, estamos longe de ter uma resposta para uma questão tão complexa. Até porque não é como se esse material fosse postado sozinho na internet. Por um lado, o Facebook é cobrado para atender o mais rápido possível aos pedido de retirada de conteúdo gráfico — sob a pena de ver imagens viralizarem e atingirem audiência enormes. A companhia de Palo Alto é frequentemente cobrada por um ambiente saudável para seus usuários. Por outro lado, a companhia é responsável por garantir que seus colaboradores, terceirizados ou não, tenham sua saúde mental preservada. E uma coisa é certa: tratar a situação na base da mentalidade "linha de produção" não vai ajudar em nada.
The Brief