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True Blood


Ratos de laboratórios já sofreram todo tipo de procedimento nas mãos de cientistas. Uma das técnicas testada em roedores ao longo dos anos se chama parabiose: basicamente, costurar um Mickey idoso num Ratatouille zero bala para “unir” o sangue dos dois. O que acontecia? Nos anos 70, os animais contraíam infecções e morriam. Mais recentemente, estudos testaram uma nova abordagem e, ao que parece, a transfusão tem benefícios para o rato velho. Uma dessas pesquisas deu ao estudante de medicina Jesse Karmazin o estalo que fez o cara criar a Ambrosia Medical, uma startup de biotech que oferece tratamentos para retardar o envelhecimento, baseados na transfusão de sangue novo na veia de gente idosa.

Transfusão de hype

A empresa atuava desde 2016 e ganhou certa notoriedade após um boato (que era só boato mesmo) de que o bilionário Peter Thiel estaria entre seus clientes. Seu fundador até foi convidado para palestrar na Code Conference em 2017 e a ideia virou piada no seriado Silicon Valley, da HBO. E ficou nisso mesmo para a Ambrosia. Nessa semana, a Food and Drug Administration atendeu a um pedido de um grupo de médicos e soltou um aviso de que a técnica não tem comprovação alguma e, pior, pode ser prejudicial aos pacientes. Depois do comunicado, a startup parou de oferecer seus tratamentos.

Sangue ruim

Mas, afinal, o que a Ambrosia oferecia? Basicamente, transfusões de plasma para pacientes a partir dos 35 anos, pela módica quantia de USD 8 mil dólares. Vale lembrar que o tal plasma é a parte líquida do sangue, responsável pelo transporte dos glóbulos. Sem nenhum superpoder ou coisa do tipo que justifique tanto auê. A “matéria-prima” vem de pessoas na faixa dos 25 anos e era negociada diretamente com os bancos de doação. A promessa, segundo o próprio Karmazin, é de resultados “bastante próximos” da imortalidade. Alguns pacientes estavam até mesmo “refazendo seus planos financeiros”, de acordo com o empreendedor. Afinal de contas, uns aninhos a mais de vida sempre são bem-vindos.

Blood, sweat and tears

Sim, é isso que você leu ali em cima mesmo, o CEO da companhia fazia questão de afirmar que, após testes em idosos, exames apontaram a diminuição de indicadores de doenças cardíacas, Alzheimer e até de certos tipos de câncer. A empresa já teria tratado mais de 150 pacientes desde que abriu a lojinha. Acontece que a biotech não apresentou nenhuma comprovação efetiva de que isso não era apenas um pitch bem treinado. Pior: especialistas fazem questão de enfatizar que não há nenhuma razão para acreditar que o que funcionou nos ratos se repita nos seres humanos.

Startup bloody startup

Viver para sempre é tema comum nas apresentações da galera do Vale e, bem, um passatempo válido para quem tem grana sobrando. Mesmo assim, um “nojinho” de sangue fez com que a biotech não conseguisse convencer nenhuma firma de venture capital a abrir a carteira. Nos planos da marca para 2019 estavam a abertura de uma clínica em Nova York e, possivelmente, mais duas (Texas e Ohio). Ao que parece, colocaram água no plasma, digo, no chopp de Karmazin. Com o posicionamento do órgão regulador dos EUA, não há nenhum indicativo de que a startup vai conseguir estancar a sangria.

The Brief

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