Trending

Sofrência Cloud


Há uma nuvem de lágrimas sobre o SoundCloud. Bem, quase isso. A empresa surgiu como plataforma de streaming em 2007. Sim, estamos pensando na mesma coisa, foi o ano em que Sandy & Júnior, os dois filhos de Chitãozinho & Xororó, anunciavam que seriam apenas irmãos e não mais uma dupla. Voltando ao SC, a plataforma teve seus altos e baixos e, em outubro, anunciou uma série de novidades para se aproximar da comunidade de criadores AKA DJs e bandas indies. A ideia é do CEO e atual frontman da firma, Kerry Trainor. O principal lançamento foi um sistema de monetização direta, chamado de SoundCloud Premier. O modelo já rolava desde 2014 num esquema beta para convidados — tipo aquela festinha de quem curte sertanejo universitário: só entra no camarote quem tem a pulseirinha. Daí, no começo do mês, o aplicativo abriu a porteira para geral. E começou o chororô.

Não aprendi a pagar DJs

O modelo de monetização da plataforma promete uma alternativa para artistas sem um contrato com uma gravadora. Em tese, a grana vem da quantidade de plays do conteúdo no serviço de streaming. Por sua vez, os caras lucram com publicidade entre os conteúdos. É de se esperar que ter conteúdo original chame uma audiência maior para que a grande roda financeira se mantenha rodando. O formato é parecido com o que o Spotify também anda testando. A treta toda é que, segundo artistas que tiveram acesso aos contratos com o SoundCloud, as cláusulas restritivas transformam os documentos em coisa pior do que música do Gian & Giovani. E, meninos e meninas, Gian & Giovani é péssimo.

Disfarçando as evidências

A principal crítica aos termos é a falta transparência sobre os pagamentos. Datas para recebimento e as porcentagens de royalties devida aos músicos, por exemplo, podem mudar a qualquer tempo. Segundo os papéis, a empresa pode, simplesmente, abandonar o Premier e deixar todo mundo falando sozinho. Tipo o Marone, caso o Bruno resolva pegar sua viola e ir mesmo dormir na praça. Tudo bem que estamos falando com artistas, mas a coisa soa um pouco liberal demais. Mais para frente nos contratos, há uma cláusula na qual os artistas concordam em não processar a plataforma ou mesmo auxiliar um terceiro em qualquer briga legal que envolva o SoundCloud. No mesmo trecho, há ainda a obrigatoriedade de que todas as questões sejam resolvidas por uma arbitragem e não em um tribunal. É algo como se os criadores dessem um atestado de “comigo não morreu” para a plataforma.

Um exemplo: um músico descobre que o serviço está usando seu conteúdo de forma indevida. Se o tal artista tiver assinado o acordo, não tem direito a reclamar de nada nos tribunais. Tem mais: se a empresa errar os cálculos e enviar um cheque menor, o criador tem um prazo curto para contestar a situação. Normalmente, a indústria fonográfica dá dois anos para esse tipo de oposição, enquanto o Premier permite reclamações num prazo mais curto: apenas seis meses. A companhia se defende: diz que os termos são acessíveis para qualquer interessado e que não obriga ninguém a participar do tal programa.

Não chore por mim

No entanto, por trás de tanta preocupação jurídica existe um bom motivo: os caras já passaram por alguns maus bocados em batalhas de copyright. E, grana é tudo que o SoundCloud não tem para gastar no momento. Para quem não lembra de um passado não tão distante, a empresa passou por um perrengue danado ano passado, quando teve de fechar escritórios que tinha pelo mundo e cortar 40% do seu pessoal. A treta foi tamanha que até consideraram colocar o negócio, que já foi avaliado em USD 1 bilhão, à venda por USD 250 milhões. Daí, em agosto, Kerry Trainor (ex-big boss do Vimeo) substituiu o founder Alex Ljung na cadeira de CEO para acalmar corações. É que, descobriu-se, enquanto a SC passava por uma crise danada, Ljung saía por aí queimando dinheiro e vivendo uma vida de rock star. Com a repaginada da gestão, a empresa conseguiu USD 170 milhões em investimento aos 45 do segundo tempo para tentar colocar a nuvem em ordem. Afinal de contas, estamos falando de uma plataforma acessada por 76 milhões de usuários todo mês e que, apesar de todos os pesares por que passou em 2017, fez USD 100 milhões em receita naquele ano.

Dou a vida por um troco

Como estratégia comercial, o SoundCloud Premier ainda precisa ser provado. Mas, o lance é que esses acordos podem definir o padrão a que será seguido pelas próximas gerações. Existe, claro, o benefício para artistas independentes que estão atrás de uns trocados fora do sistema tradicional. Só que, no caso do Premier, os artistas podem se tornar escravos de contratos que são verdadeiras ciladas. É um caminho sem volta, parecido com a influência do sertanejo universitário. Depois que você entrou nessa, não tem mais volta para época do Sérgio Reis. A gente sente muito, Sérgio.

Fonte: The Brief

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
 https://www.enjoei.com.br/@vitrineraros
 https://www.enjoei.com.br/@vitrineraros
header ads