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O Google escondeu um caso de assédio?


A quinta foi marcada pelos resultados financeiros de várias das marcas mais poderosas do planeta. Mas, em um headquarter específico, o assunto era outro. Em Mountain View, uma matéria do NYTimes caiu pior do que os resultados do Q3 da Alphabet (que saíram ontem também e não agradaram muito Wall Street). A publicação norte-americana diz que a gigante das buscas tem um longo histórico de acobertar condutas de assédio de seus executivos. O caso mais emblemático deles seria o do criador do Android, Andy Rubin.

Exit package

De acordo com o jornal nova-iorquino, a direção da gigante das buscas investigou o caso e concluiu que Rubin teria se comportado de forma inapropriada com uma funcionária em 2013. No entanto, ela manteve silêncio sobre as acusações e ainda fechou um acordo de demissão que rendeu USD 90 milhões para Rubin. Anos depois, quando o criador do sistema operacional lançou sua empresa Essential, o Google investiu alguns milhões na empreitada. O caso de assédio já havia sido noticiado anteriormente, mas os detalhes do tal “exit package” tornam a situação ainda mais controversa. Especialmente, porque as fontes da publicação (mais de 30 ex e atuais googlers) afirmam que o escândalo não foi um caso isolado.

Walk the talk (?)

Os casos reunidos pela reportagem relatam diversas situações de comportamento inapropriado. Mas, ao que parece, há um padrão de proteção aos executivos, que se valem de seus cargos para forçar relacionamentos com funcionárias da empresa. O NYTimes aponta que, ao realizar acordos favoráveis aos transgressores, o Google não só premia uma conduta errada, como também joga a favor de seus próprios interesses em dois pontos: 1) evita brigas legais e 2) garante que esses nomes, requisitados no mercado, fiquem longe de rivais.

48 demitidos em 2 anos

Após o barulho causado pela publicação, Sundar Pichai, CEO da Big G, enviou um e-mail de posicionamento para seus colaboradores. A mensagem, assinada também pela VP de operações pessoais, Elieen Naughton, diz que 48 funcionários foram demitidos nos últimos dois anos, após investigações sobre assédio e conduta inapropriada. Dentre os desligados, estariam 13 pessoas em cargos de alta gerência ou superiores. O CEO ainda falou que nenhuma dessas pessoas recebeu qualquer tipo de bonificação. "Queremos garantir que analisamos todas as queixas sobre assédio sexual ou conduta inadequada, investigamos e agimos". Segundo ele, o Google mudou uma série de políticas internas para ter uma postura mais rígida em relação a eventuais abusos de pessoas em cargos de autoridade.

Cultura abusiva

As acusações de ambientes de trabalho tóxicos não são uma novidade para o setor. Ou exclusividade do time de Mountain View. Em 2017, Susan Fowler descreveu situações de assédio constante na Uber. Os obstáculos com a gestão desse problema, inclusive, foram apontados como um dos motivos para o afastamento de Travis Kalanick do cargo de CEO da ride hailing. Mesmo após anunciar mudanças em suas políticas, a companhia ainda sofre com sua cultura. Nesta semana, um executivo sênior se demitiu após ter sido advertido e sofrido penalidades financeiras por sua má conduta. Em entrevista, o atual diretor executivo da Uber, Dara Khosrowshahi, reconhece (paywall) que ainda há muito por fazer para mudar o panorama. “Em última instância, tenho que ser o responsável. Eu acho que a intenção está lá [mas] não somos perfeitos", afirma o sucessor de Kalanick.

Vale lembrar que movimentos como o #MeToo revelaram que essa conduta não se restringe a um mercado ou setor. Só que, para as big tech, dar uma resposta adequada para esse problema não é uma decisão apenas moral. É questão estratégica, quando falamos de marcas que prometem melhorar o mundo.

Fonte: The Brief

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