No final de semana, rolou o segundo maior acordo entre tech companies já feito, atrás somente da aquisição da EMC pela Dell. A IBM desembolsou USD 34 bilhões pela Red Hat, pagando USD 190 por ação e assumindo, também, dÃvidas do negócio. Veja só, foi muita grana. Ainda mais considerando o histórico de preço dos papéis da Chapeuzinho Vermelho. Em bullets:
Quando fez IPO, em 1999, a Red Hat cotou suas ações em USD 7, mas acabou vendo o mercado comprá-las a USD 23. Quatro meses depois, os papéis bateram os USD 150.
Depois do 11 de setembro, chegaram ao valor mÃnimo de USD 2,40.
Em junho deste ano, alcançaram os USD 177, para depois caÃrem para USD 166, na sexta-feira passada.
No fim de semana, a IBM decidiu pagar USD 190 por ação.
O histórico de cotação dos papéis das duas empresas nos últimos cinco anos tem relevância. Enquanto a International Business Machines perdeu um terço do valor de suas ações, a Red Hat teve uma alta de 170% no mesmo perÃodo.
Big Blue's big bet
Ou seja, o mar não anda azul para a IBM. Desde que Ginni Rometty assumiu o cargo de CEO em 2012, a companhia vê sua receita diminuir a cada quarter. Até 2017, os papéis perderam 31% de valor, fazendo com que até Warren Buffett, por meio do Berkshire Hathaway, tirasse (paywall) quase toda a participação acionária que o fundo tinha na empresa. O motivo da bad vibe? A dificuldade em encontrar seu lugar ao sol no pool de novas soluções tecnológicas, como inteligência artificial e computação em nuvem. Vendo que não dava para alcançar os concorrentes (Amazon e Microsoft) em curto prazo, a companhia de Armok resolveu adotar uma das mais antigas estratégias corporativas: comprou outra empresa para reforçar seu negócio.
O meu chapéu tem 3 pontas...
Com o acordo, a IBM vira a maior provedora de nuvem hÃbrida do planeta. Nesse tipo de estrutura, companhias compartilham dados entre seus próprios servidores e as plataformas de nuvem públicas. E é nesse nicho que Ginni Rometty está de olho. Segundo a CEO da azulona, esse mercado tem potencial para bater USD 1 trilhão até 2021. O lance é que a Red Hat oferece softwares open-source que funcionam como uma ponte para integrar essas diferentes plataformas. Fundada em 1993, na Carolina do Norte, a provedora oferece soluções de código-aberto, baseadas em Linux. Mas o que realmente enche o chapéu vermelho de dinheiro são as features customizadas e os serviços de manutenção e suporte técnico cobrados de clientes corporativos. No ano passado, por exemplo, a empresa teve uma receita de USD 2,9 bilhões.
Ou seja, dá para sacar que a ideia é pragmática: no lugar de oferecer um serviço concorrente, a Big Blue quer lucrar com software em cima dessas plataformas de cloud. Em entrevistas, a CEO da Big Blue já está posicionando sua marca como a única solução “realmente open-source” que trabalha bem com todas as outras. O problema? Bem, a companhia corre o risco de desenvolver um serviço que ninguém pediu.
Tudo fica blue?
Atualmente, a IBM é apontada como a terceira marca de cloud, com um faturamento anual de USD 10 bilhões, registrado no último trimestre de 2017. Nesse número, estão computados os ganhos com software, plataforma e infraestrutura. Já a Microsoft lidera o mundo das nuvens comerciais com um revenue de USD 21,2 bilhões anuais contra USD 20,4 bi da Amazon Web Services no mesmÃssimo perÃodo. Ou seja, a IBM precisa acelerar o passo. Lembrando aqui que a MS comprou a GitHub, outra empresa de software aberto, há três dias, pela bagatela de USD 7,5 bilhões. É justamente por isso que Rometty tem se esforçado em modernizar os negócios. Para Ben Thompson, autor do Stratechery, o que a IBM tenta fazer agora é recuperar os anos de glória da gestão Louis V. Gerstner Jr. O cara chefiou a companhia até 2002 e é conhecido como o sujeito que virou a história da Big Blue — em uma trajetória que ele conta no must read Who Says Elephants Can’t Dance.
Elefante azul, chapéu vermelho
Veja bem, Gerstner foi CEO da gigante na época em que o mercado mudava fortemente com a chegada da internet. Ele foi lá e entendeu que ajudar outras empresas a se manterem online — oferecendo suporte para datacenters, e-commerce, intranet — era o problema que a IBM poderia resolver. E fez isso lindamente, apostando firme na modificação de uma cultura capaz de fazer uma empresa pesada (elefante) se movimentar rápido (dançar). Agora, novamente, a IBM enfrenta tempos de mudança. A compra da Red Hat vem com a aposta de que a redução do mercado de computação em nuvem para três provedores centralizados faz com que as empresas fiquem relutantes em se comprometerem com qualquer um deles. Assim, a aposta é, junto da nova aquisição, construir produtos que poderão unir facilmente data centers privados e todas as nuvens públicas. Basta saber se essa estratégia vai 1) manter a independência da Red Hat e seus diferenciais e 2) se a marca azul vai conseguir agregar valor aos serviços da chapeuzinho vermelho. Ou será que o elefante vai sair com o chapéu entre as patas?
Fonte: The Brief