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Portal Geist


Faz tempo que essa história corre à boca pequena. Com Amazon, Google, Apple e Microsoft trabalhando no mercado de voz, era de se esperar que o Facebook, com seus 2 bilhões de usuários, também quisesse brincar. Demorou, mas finalmente todos os boatos provaram que não eram só boatos. No início do mês, a rede social apresentou ao mundo o Portal, dispositivo criado para posicionar a marca no mundo falante. Disponível em dois tamanhos e ainda na fase de pré-venda, o produto se diferencia da concorrência por conta de uma tela que realiza conversas de vídeo sem que ninguém precise tocar no aparelho. Parece bacana. Só que nem tanto. Vem com a gente.

Chatshow

Depois de tirar o smart speaker da caixa, você pluga o aparelhinho na tomada e, tcharam, começa a conversar com a Alexa, a assistente virtual da Amazon. O plano inicial era fazer com que você batesse um papo assim gostoso com a “assistente de voz” desenvolvida por Markinho. Só que a “Siri do Feice” não rolou, porque a empresa não conseguiu colocar essa IA a tempo no mercado. O problema disso? Bem, tem dois. Primeiro, o produto concorre com modelos semelhantes e mais baratos vendidos pela própria Amazon. Depois, o Facebook não pode coletar dados para melhorar seu próprio sistema de reconhecimento de voz, ainda em desenvolvimento. Se você já tá achando ruim, saiba que a história pode ficar pior. Segundo uma reportagem recente da Forbes, o Portal é só a ponta de um iceberg de problemas de desenvolvimento na mãe das redes sociais.

Irmãos nas tretas

Coincidência ou não, os obstáculos que impediram o Facebook de desenvolver sua própria assistente se assemelham muito aos sofridos pela Apple durante a construção da Siri. Em Palo Alto, os gerentes dos times de voz viviam uma dança das cadeiras pior do que a do programa do Raul Gil. De tempos em tempos, eles eram realocados para trabalhar com outras equipes, o que fazia com que gastassem um tempo precioso tendo de reorganizar seus times. Mais importante, não havia um consenso sobre qual funcionalidade da nova tecnologia seria priorizada. Em muitos casos, o foco de atuação de grupos inteiros era trocado, antes de ser possível conseguir resultados concretos em suas pesquisas. Dentre as ideias que ficaram pelo meio do caminho estão: uma ferramenta de busca baseada em voz, um serviço de leitura de notícias e um assistente de voz para o Messenger. O resumo da ópera é que os caras queriam fazer tudo miojo-style: 2 anos de P&D em seis meses.

Batendo (um papo) cabeça

Se o speaker do FB chegou meio capenga ao mercado, não foi por falta de investimento. Desde 2013, a rede social não poupou despesas para desenvolver essa tecnologia internamente. Chegou a comprar startups de inteligência artificial (Ozlo), modulação de áudio (WaveGroup Sound), conversação (Branch) e reconhecimento de fala (Wit.ai, Jibbigo) para ver a parada acontecer. Ou seja, talento não faltou. Também não faltou pesquisa e ideia dessa galera. A dificuldade era transformar tudo isso em produtos viáveis.

Com a porta na cara

Durante anos, todos os esforços relacionados ao universo da voz foram tratados de forma experimental. “Não havia [demanda de] clientes. Ninguém disse ao Facebook 'Eu preciso dessa tecnologia agora'", foi um comentário recorrente de muitos dos product managers que falaram sobre o caso à Forbes. Aí mudaram as estações e alguma coisa aconteceu porque tudo ficou bem diferente, tipo uma canção da Cássia Eller. Por volta de 2016, o projeto que daria vida ao Portal começou a ser levado à sério. E o chicote estralou. Mas não deu para correr contra o relógio. Foi nesse contexto — depois de assumir a derrota na criação de sua própria Siri — que a rede social anunciou o tal smart speaker concorrente da Amazon Echo, mas powered by Alexa.

E, como consequência dessa escolha, a rede social deve prejudicar ainda mais os testes para seu próprio lacaio virtual. Ficou confuso? A gente explica: sem poder utilizar os dados da IA da Amazon, o time do FB não consegue, por exemplo, treinar seu algoritmo para compreender diferentes sotaques. Isso só para citar um exemplo básico. Sem essa massa crítica, o tempo de desenvolvimento deve se estender ainda mais.

O que tem atrás do Portal nº3?

E voltamos para o dia de ontem, quando o Facebook apresentou os resultados do seu Q3. Mesmo a receita crescendo a um ritmo de 33% ano a ano, o número de usuários diários permaneceu em 185 milhões, mesmo indicador apresentado no quarter passado. Sinal de que a temporada de reports que se superam a cada trimestre pode ter ficado para trás. E, por isso mesmo, a empresa precisa correr atrás e explorar novos mercados.

O pior é que, um olhar em retrospecto mostra que o possível fracasso do Portal não tem nada de novo no feed. Ou melhor, no fronte. A empresa ainda não mostrou a que veio na área de realidade virtual/mista, desde a aquisição da Oculus. E olhe que eles têm gente graúda do mundo tech trabalhando nesse time. E o padrão se repete. Pensando bem, anda meio difícil lembrar de uma inovação do Facebook além do algoritmo responsável por, basicamente, fazer o Facebook funcionar.

Fonte: The Brief

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