Vamos direto ao ponto: o Google+ subiu no telhado. Já era. Morreu. Escafedeu-se. A Alphabet anunciou ontem que está desativando a rede social para usuários. Mas não se engane. A decisão não tem nada a ver com o fato de o produto nunca ter chegado minimamente perto de cumprir seu objetivo de bater de frente com o Facebook. Tem a ver com data leak. Ontem, um furaço do Wall Street Journal contou como a companhia descobriu uma brecha de segurança no Plus que expôs dados de centenas de milhares de usuários. Isso em março deste ano. Daà a empresa foi lá e tomou a não-muito-sábia decisão de ficar de bico calado. Sabe como é: se ninguém sabe, não aconteceu. Primeiro, por medo da provável multa que os órgãos regulatórios a sentenciariam a pagar. Depois, por apreensão de que o causo gerasse danos à sua reputação. Demorou alguns meses, mas a verdade apareceu e deixou para a dona do buscador uma sujeira impossÃvel de varrer para baixo do tapete. Por isso, a decisão de desativar a rede social.
So what?
Ok, vamos combinar que ninguém vai sofrer muito com a partida do Google+. Criada em 2011, a rede social acumulava 395 milhões de usuários ativos por mês no ano passado (quem são? onde vivem? do que se alimentam?), que gastaram, em média, cerca de 3 minutos e 46 segundos em cada um de seus acessos à plataforma. Os números são consideráveis, porém esdrúxulos quando comparados aos do Facebook. A contagem de monthly active users da social network de Mark Zuckerberg já está na casa dos bilhões. Mais de 300 milhões de fotos são carregadas por lá a cada dia que passa. O time spent é de 20 minutos. Em 2015, o Google até tentou fazer uma reestruturação na plataforma. Mas não vingou. Segundo ex-funcionários da companhia, o principal problema do Google+ era justamente a competição com o FB. O Plus acabou ficando parecido demais com seu rival, apesar de chegar atrasado no rolê. E a sua existência era inteiramente guiada pelo ponto de vista competitivo. Isso gerou até uma paranoia dentro da própria empresa. Um exemplo: os funcionários que trabalhavam na rede social foram separados dos demais para evitar que fofocas sobre o produto se espalhassem. Eles tinham, inclusive, sua própria cafeteria secreta, onde outras pessoas do campus não eram autorizadas a entrar.
Em outras palavras: o Google+ foi desenhado para resolver problemas da própria companhia, que não queria ficar para trás no mundo das redes sociais, em vez de ser uma plataforma com foco no usuário.
Em outras palavras: o Google+ foi desenhado para resolver problemas da própria companhia, que não queria ficar para trás no mundo das redes sociais, em vez de ser uma plataforma com foco no usuário.
O silêncio dos inocentes #SQN
Agora, vamos à brecha de privacidade. O glitch permitiu que developers tivessem acesso a dados privados do Plus, entre 2015 e março de 2018. Foi naquele mês que investigadores internos descobriram o problema. Daà você se pergunta: o que mais aconteceu em março? Sim, o escândalo do Facebook e da Cambridge Analytica. Ou seja, as empresas tech já estavam no olho do furacão, sofrendo um baita backlash a respeito de sua influência nas eleições de 2016. Então, a equipe jurÃdica e de polÃticas da Big G compartilhou um memorando com os executivos seniores alertando que divulgar o incidente acabaria, obviamente, levando a comparações com o vazamento de dados do FB. Então, um comitê bateu o martelo e optou pela estratégia “vaca amarela”. Segundo fontes entrevistadas pelo WSJ, o CEO, Sundar Pichai, teria sido avisado sobre a decisão.
Ih, vazou
Nos testes que rodou, o Google descobriu que os dados de quase 497 mil usuários estavam vulneráveis. Entre eles, os de assinantes do G Suite, incluindo aà escolas, empresas e governos. A companhia, porém, não conseguiu determinar quantas contas, exatamente, foram afetadas e quais tipos de infos podem ter sido coletadas de forma imprópria.
Buscando problemas
O ponto é que não é de hoje que os produtos da gigante de Mountain View estão na mira das autoridades norte-americanas. Em julho, uma matéria do mesmo WSJ revelou que a gigante das buscas permite que desenvolvedores escaneiem contas do Gmail em busca de informações que possam ser utilizadas pelos anunciantes. O mais perigoso é que esse tipo de permissão é dada quase de forma imperceptÃvel pelos usuários ao logarem em serviços de terceiros.
Quem mexeu nos meus dados?
Apesar de o Google + ser infinitamente menos bem-sucedido que o FB, esse vazamento de dados não é pouco significativo. Principalmente, do ponto de vista de posicionamento das lideranças de Mountain View. Ao esconder um erro desse tamanho e deixar o menino Zuckerberg na berlinda sozinho, a Big G definiu sua prioridade: evitar uma possÃvel devassa em suas plataformas no lugar de proteger os dados de seus bilhões de usuários. Por sua vez, a companhia explica que não há indÃcios de que as informações foram realmente acessadas por hackers, ao mesmo tempo que admite que não é possÃvel saber ao certo. Em uma época em que os legisladores passam longe de amigáveis em relação à s corporações tecnológicas, a panela de pressão está apitando. E não parece que precisa de muito para explodir.
The Brief