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Cidadão Newmark e sua Craigslist


Talvez você já tenha ouvido falar no Sr. Newmark. Ou melhor, no Craig. Ele tem uma lista, a Craigslist. É um market place de quase tudo o que você possa imaginar, no qual 60 milhões de usuários buscam as melhores ofertas de, bem, quase tudo o que você possa imaginar. Incluindo esta newsletter, que só conseguiu colocar as mãos num iPhone X, na semana do lançamento da Apple, com a ajuda do site construído pelo cara. Para um portal com cara de Yahoo dos anos 1990 e que deixa o pessoal postar quase qualquer anúncio de graça, o Craigslist acumula números impressionantes. Por mês, ano passado, registrou 50 bilhões de pageviews, 80 milhões de ads, 200 milhões de posts nos fóruns de discussão. Opera em 700 cidades, em 70 países. Tudo isso com uma estrutura de 40 funcionários, num escritório na 9th Ave, em São Francisco.

Mulher busca parceiro...

O Craigslist foi criado no final da década de 1990. Newmark, um ex-programador da IBM, queria desenvolver um serviço que permitisse um sujeito qualquer encontrar desde um lugar para morar a parceiros sexuais — passando aí por caronas para outras cidades e até emprego. No início, todos os anúncios eram gratuitos, o que ajudou a divulgar o site pelos quatro cantos do planeta. Hoje, a plataforma cobra de quem quer publicar vagas de emprego ou apartamentos nos Estados Unidos. Para dar uma ideia do que significa essa nichada fonte de renda: em 2016, a receita do negócio ficou em USD 690 milhões. A margem de lucro? Foi de 80%.

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Se você é da época em que se lia revistas e jornais em papel, deve ter lembrado dos bons e velhos classificados. Pois é. A relevância do Craigslist se tornou tão grande, que ele conseguiu abocanhar boa parte dessa receita das publicações. Estima-se que o site tenha causado USD 5 bilhões em prejuízo para os periódicos americanos, entre 2000 e 2007. Acontece que, naquela época, o dinheiro vindo das páginas de classificados ainda respondia por 40% dos ganhos dos jornais locais.

Craig procura jornalistas

O quão irônico seria, então, que o criador da ferramenta que prejudicou a boa e velha imprensa fosse uma das personalidades empenhadas em salvar o jornalismo? Muito, muito irônico. Mas é isso mesmo. O bilionário doou USD 2,5 milhões para a New York Public Radio expandir sua operação, esta semana. Em agosto, assinou um cheque de USD 1 milhão para a Mother Jones, para ajudar a revista a combater fake news. Em junho, presenteou o curso de jornalismo da City University of New York com USD 20 milhões e virou até nome de auditório. Ainda abriu sua generosa carteira para projetos investigativos, como The Markup e The City.

Profissão: Mecenas

Depois de Jeff Bezos, o dono da Amazon, ter comprado o Washington Post, e Marc Benioff, o cara da história lá de cima, ter adquirido a Time, parece que é tendência entre as personalidades de tecnologia entrar no setor de mídia. Mas a coisa é diferente para o Sr. Newmark. O criador do Craigslist não está saindo por aí querendo ser dono de veículos de comunicação. Ele descreve sua abordagem, na verdade, dizendo que não quer ser dono de nada. “Eu ajudo e então saio do caminho e fico fora do caminho. Essa é minha força”, comentou o novo mecenas do yankee journalism. Será que é peso na consciência? Newmark diz que não. “O Craigslist ajudou a colocar comida na mesa das pessoas, ajudou pessoas a conseguirem uma mesa, ajudou pessoas a terem um teto sob suas cabeças para colocarem uma mesa”, disse, numa digressão meio viajada.

Nos bastidores da notícia

O status de amigão da vizinhança é tão grande que o empreendedor anda até mesmo palestrando sobre a crise no setor de mídia. Sim, ele está explicando para jornalistas o que aconteceu com o jornalismo. Em uma de suas palestras, em evento promovido pela Singularity University, falou sobre a importância da integridade no jornalismo e em soluções para tornar a prática noticiosa mais confiável. Em outra, promovida pelo Google, explicou que suas doações são uma forma de promover bom jornalismo e combater as fake news. As atividades de Newmark e sua fundação ainda incluem discussões com o time da Wikipédia sobre a importância de fontes confiáveis em seus artigos.

Nada além da verdade

Com uma fortuna avaliada em USD 1,6 bilhão, não faltam opções de investimento para Newmark. O motivo de seu interesse por iniciativas jornalísticas é puro idealismo. Ele acredita que essa é a única forma de defender os EUA da influência das notícias falsas. Além de assinar cheques para veículos e faculdades, o cara continua trabalhando no Craigslist. Mas suas tarefas estão longe da chefia. Desde 2000, o site do Craig não é regido pelo Craig, mas sim por um cara chamado Jim Buckmaster. O programador atua somente na área de customer service - o que significa, basicamente, expulsar os trolls da plataforma. Ele resolveu abraçar esse trampo por motivos de: “as a manager, I suck”. Já como patrono do jornalismo…

Fonte: The Brief

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